A cobrança pelo uso da água é um assunto que gera muitos debates, controvérsias e polêmicas no Brasil. Afinal, não é tarefa simples estabelecer um preço justo para o recurso natural essencial para a vida humana, outros seres vivos e para a atividade econômica. Mas você sabia que a cobrança pela utilização da água no país se dá de duas formas?
A tradicional conta de água, que todo mês desembarca na casa dos brasileiros, é a forma mais conhecida. Aqui, estamos falando da fatura referente ao consumo de água fornecida por redes públicas de distribuição, que geralmente também incorpora os serviços de esgoto.
A outra modalidade de tarifação – que é prevista pela Política Nacional de Recursos Hídricos (Lei Nº 9.433, de 8 de janeiro de 1997) – é estabelecida pela União e diz respeito à “Cobrança pelo Uso de Recursos Hídricos”. É um valor cobrado de usuários de água como empresas de saneamento, indústrias e mineradoras pela utilização do recurso captado de rios e outros mananciais das bacias hidrográficas do país.
Índice
Por Que Cobrar o Uso de Um Bem Público?
A cobrança pelo uso de águas de domínio da União (rios e recursos hídricos subterrâneos) é uma responsabilidade da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA).
A Agência estabelece os valores de captação de água bruta no território de seis bacias: Paraíba do Sul; Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ); São Francisco; Doce; Paranaíba; e Verde Grande.
A Lei Nº 9.433, que é popularmente conhecida como “Lei das Águas”, justifica que a cobrança da água nessas bacias se dá por causa de três objetivos:
- dar ao usuário uma indicação do real valor da água;
- incentivar o uso racional da água;
- obter recursos financeiros para recuperação das bacias hidrográficas do país.
A ANA explica que a cobrança pelo uso dos recursos hídricos do país “não é um imposto, mas uma remuneração pelo uso de um bem público, cujo preço é fixado a partir da participação dos usuários da água, da sociedade civil e do poder público no âmbito dos Comitês de Bacia Hidrográfica – CBHs”.
E a Definição das Tarifas para o Consumidor?
Quanto você acha que deveria custar um litro de água tratada? Essa é outra pergunta complicada e de resposta para lá de complexa.
Isso porque as tarifas de água no Brasil variam conforme a região, o Estado, os reajustes dos valores da cobrança pelo uso de água (definidos pela ANA para as seis bacias de domínio da União), a disponibilidade de água, os custos da empresa que realiza a captação, o tratamento e a distribuição da água e outros fatores específicos.
Custo do Tratamento de Água no Brasil
O recém divulgado estudo Contas Econômicas Ambientais da Água (CEAA): Brasil 2013-2017 revelou importantes parâmetros hídricos do Brasil quanto à disponibilidade, oferta, consumo e os custos de água de distribuição e serviços de esgoto.
Realizado por meio de uma parceria entre a Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) e o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o levantamento compilou resultados nacionais das cinco regiões – Norte, Nordeste, Sudeste, Sul e Centro-Oeste – com indicadores físicos e monetários sobre a oferta e a demanda de água no Brasil, pelas atividades econômicas e pelas famílias.
De acordo com dados desse raio-X hídrico do país, as tarifas de água para o consumidor brasileiro podem ter variações de até 245%.
Essa diferença é verificada na comparação entre as tarifas cobradas na região Centro-Oeste (que possui o maior custo de serviços de fornecimento de água e tratamento de esgoto, equivalente a R$ 4,71 por metro cúbico/m3 ou 1.000 litros) e na região Norte, que apresenta o menor valor, de R$ 1,92 por m3.
Considerando as cinco regiões, a tarifa média de água registrada no país é de R$ 3,06/m3.
Custo da Água e de Serviços de Esgoto por Região
Região | Valor (R$/m3) |
Norte | 1,92 |
Nordeste | 2,13 |
Sudeste | 3,17 |
Sul | 3,80 |
Centro-Oeste | 4,71 |
Consumo de Água por Habitante
A média brasileira de consumo de água por dia por cada habitante é de 116 litros, informa o CEAA.
Entre as cinco regiões brasileiras, a Sudeste é aquela que registra o maior consumo de água per capita diário (143 litros/habitante/dia), seguida das regiões Sul (121 litros/h/d) e Centro-Oeste (114 litros/h/d). Na região Norte o consumo diário por cidadão é de 84 litros e em último lugar fica o Nordeste, com 83 litros/dia por habitante.
Quanto ao índice de esgoto coletado (em relação ao volume de água usado pela população) o ranking nacional também traz a região Sudeste na liderança, com 71%. Depois surgem Sul e Centro-Oeste (ambas com 54%), Nordeste (38%) e Norte (14%).
Saiba Mais!
- Cada brasileiro consome, em média, cerca de 116 litros de água por dia
- Em 2017, a retirada total de água no país foi de 3,7 milhões de hectômetros/hm³ (3,7 quatrilhões de litros)
- O valor para a produção de água de distribuição e serviços de esgoto, em 2017, foi de R$ 56,5 bilhões
- O consumo total de água no Brasil (menos a que retorna para o meio ambiente) foi de 329,8 trilhões de litros em 2017